quarta-feira, março 9

Regras num descompromisso ao amor

Eu caminhava enquanto relanceei um cena amargadoramente transportável a um tempo desconhecido e não pertencente mim.
Naquela casa, baixa, de grades que me permitiam presenciar da janela a velha mulher a gritar e reclamar ao seu marido a presença ao jantar toda a história começaria. Até então na minha cena só figuravam a casa, o céu e ela. Foi então que ao escutá-la berrando eu descortinei-me ao homem, impaciente na resposta, com o cigarro a segurar e andando sem satisfação nem documento, o que me faria conhecer toda a biografia daquele casal.
Foi mais ou menos assim.
Ele, no bar com os seus amigos quando ela passou. Meio embriagado ao notá-la mudaria toda a sorte de seu destino em pensar em ter aquela formosura ao seu lado, pra sempre. Sonhou com ela dias e dias antes de descobrir quem era para ir ao seu encontro. Ela, imatura no amor, aceitou o pedido de namoro ao homem que não conhecia.
Ele, poucos meses depois, pediu a sua mão.
Então, se casaram, se mudaram, se engravidaram diversas vezes e assim a vida os levou. Ela reclamava do cheiro que ficava na casa após ele acabar com os seus vulgares maços, perdera muitos casamentos pela falta de vontade do marido. E perdera muitas amigas pelo ciúme. Deixou de ser doce com seus filhos e acabou por ser bastante infeliz quando ele chegava a casa com o cheiro de qualquer uma outra, muitas e muitas vezes. Quisera ela não tivesse passado à frente daquele bendito e abominável bar em tempos de carnaval.
E depois de muitos anos, quando muito e pouco já havia se suportado eu passei em frente àquela casa. E ele, carregando o seu vício, anos a fio, fazia com que eu soubesse exatamente o que por eles já havia passado.

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