sábado, julho 31

Se se afoga

Serias tu capaz de imaginar o único tempo que nos é tempo?

Mensurações Galácticas


Mas para trás,
eu sempre iria.
Não sei pra onde, nem pra quando,
a morte eu sei que adiaria.
Quantas idéias eu perdi?
Diamantes no céu,
e uma grande pérola.
A lua costumava atender os meus pedidos!
Quantas pérolas teriam meu colar se contasse todas as noites peroladas do céu?
Seria possível adivinhar.
Alcançaria o diâmetro da terra?
Não sei.
Viajaria da lua ao Sol?
Talvez.
Contornaria a terra como num globo de espelhos, as pérolas!
Que ostra é essa que fabrica esta imensa que olho?
Que areia ou impureza se transformou nessa linda e pequena esfera levemente dourada e brilhante?
Mas que tristeza foi essa?
Ostra feliz não faz pérolas.
No céu a orbita de diamantes me causa essas mensurações galácticas!
E se vai, com isso, incompreendendo o compreensível.
Inimaginando o imaginável.
Realizando o irrealizável. Mais conhecido vulgarmente como impossível.
Ah vá lá né!
Quantas sinapses seriam precisas?
Precisas de necessário, ou, precisas de acuidade?
Se eu tivesse anotado todos os sonhos nesses 20 anos, nessas tantas luas, pérolas e diamantes,
Eu sei que uma bíblia de histórias eu teria.
E pra publicar só se fosse a pergaminho!
Nunca acabariam essas oito horas diárias de milhares de sonhos... e sonhos de mais que oito!
Por que sonhos eu sonho só, então, eu praticamente só sonho.
Não sonho junto, nem sei o que é realidade.
Sei que é raridade!
No início me lembrava de um, dois, e estou no três...
Será possível, um dia, lembrar de todos os sonhos de uma só vez?
E que Chá é esse de Melissa e Anis Estrelados?
Nomes lindos pra concorrer merecidamente com Julia, Alice e Sofia.
Só tendo muito filho,
para dar tanto nome bonito,
Meu Deus!
E quantos chás se fariam
com a água fervente do banho?
Ora, quantas misturas, colorações, sabores e companhias!
Ah! Companhias!
Mas sonho se sonha só.
Realidade se sonha junto!
Como é que eu pude esquecer-me de anotar todo dia
Um sabor diferente de comida?
Como é que eu me não me lembrei de não esquecer todas as sensações?
É que quando elas passam, não voltam.
Nunca se sente nada duas vezes.
Quantas flores existem no meu jardim?
Nenhuma.
Eu não tenho jardim!
Mas...
Quantos sentimentos existem no mundo?

Para

Pararias se pedissem que pare?

quinta-feira, julho 22

Protocolado - Pág. 9-10


Removido pela autora.

Fig.: Eliseu Visconti, Trigal, Coleção Particular, 60 cm x 80 cm

sábado, julho 10

Do café a música viva


Um café vida em meio a uma cidade morta. Cidade que morta vivia inconsciente a uma causa que lhes foi imposta, digo, a todos que ali permaneciam. Como pessoas que mortas vivem em corpos também formados por outros e correm para ficar parados à frente de telas diversas, de pequenos e grandes tamanhos, de belezas e artes indefinidas. E aquele café, naquela cidade morta, vivia. Como se todos que ali restassem, e festassem, e procurassem algo tão diferente, finalmente vivessem um sopro inspirado em meio aos cadáveres.
E o pandemônio ensurdecedor que era aquela cidade – onde sua grandeza restava apenas para o que se prestava - se silenciava a quem entrasse por aquela porta verde radiante, numa parede turquesa brilhante, com janelas da mesma cor da porta e, mesas e, cadeiras da mesma cor da parede, de forma que, quem ali sentasse de longe pareciam flutuar num ponto vivo da cidade morta.
Mas lá dentro, o que se escutava era Bach, Cello Suite nº 1 Prélude, sempre. Em notas de vida na sinfonia daquela cidade morta. E o repertório era o mesmo, não eram as pessoas mesmas, os livros mesmos, as conversas mesmas, as perguntas mesmas, as filosofias mesmas, os filmes mesmos, que passavam nas camufladas por pinturas, pequenas salas escuras. Mudava tudo. Ou talvez nada. Os timbres mudavam, mas ainda eram sopranos e tenores. Migalhas de gente, de nada, de quem não nada na solidão de muitos amigos. De quem não só encontra a outra metade perdida do tempo em que se conheceu. De quem não só vive os paradoxos da vida, dos graves aos agudos, mas os sente multiplicados de formas diversas, e ri de quem os teme. Mas no fim a cidade também vivia. Ainda que na temperança morta do temor daquela cidade viva ou dos subterrâneos selvagens civilizados pelo que se tornou reinante. Mas a rainha estava morta. O rei estava morto. E, acabaram-se as perguntas. Soterraram as respostas. O que ainda não se aviltava naquele ponto de luz que vive finado na cidade morta.
Fg.: Van Gogh. Café à Noite (1888). Yale University Art Gallery, New Haven

terça-feira, julho 6