sexta-feira, novembro 20

A falta de percepção da falta


A comida estava sempre sem tempero. Era exótico esse estilo de vida na classe daquela época. Tinha sal, mas comer não podia porque de pressão alta sofria. Comia sempre de cara feia, tampava o nariz e nem sentia o gosto. Então saia para comer na rua, comia tudo quanto era besteira. Podia tudo. Metade do salário ficava ali mesmo, na lanchonete, na quitanda, no restaurante, no bar. Mas, quem se importava? Até que um dia, o dinheiro acabou. As coisas por lá ficaram mesmo muito ruins. Hão de ficar piores. De repente a comida acabou. Não tinha reserva. Fecharam-se as fronteiras. Não tinha poupança. De lá mendigue passou a viver. Com tempero ou sem tempero importava agora já não. O importante era comer, já que nada tinha pro fogão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário