domingo, outubro 3

Do peso ao arraste.


A cada movimento, a culpa.
A quem recusou um almoço, as colheradas progressivamente se tornam cada vez mais pesadas. A culpa é tudo o que ocupa os órgãos exasperados que irremediavelmente gemem de dor.
De dor do excesso.
De dor do incansável.
De dor das tentativas fracassadas em poder lutar contra as paredes de tecido que os impedem de explodir.
De culpa.
De culpa.
A pouca comida que resta parece um banquete. A fome já desconhecida se esvazia e se enche culposa.
Tudo o que resta é culpa.
Vigora-se o estômago, nutrindo o desejo de sobreviver na tentativa arrastada de lutar contra as intempéries da vida que o enchem de mais desejo de dolo.
E o corpo pesado imagina-se sustentado, até que no só, o olhar para longe e o céu nebuloso, a imagem pára. O olhar cansado de uma mulher analisa fixamente a personificação da culpa. Leva-lhe a palavra mentindo. O sorriso santificado se acende em bondade a quem não merecia. O corpo se liberta. A mente se liberta. O hoje aparece em exclusão do passado e todos os movimentos se revezam.
Em seu real teor.
Leve.
Fig.: El Hechizo de Merlin, Burne-Jones

Nenhum comentário:

Postar um comentário