quinta-feira, outubro 7

Faz diferença em primeira pessoa



O olhar daquela mulher me fitando confirmava o que eu iria saber momentos depois. Eu a lembro a sua filha, morta de forma fulminante quando ainda era nova. E não há nesse mundo sentimento absoluto que me faça descrever de forma rápida o que foi descobrir algo assim na minha vida. Algo assim ainda hoje, quando sinto as coisas balançar. Deve haver em mim, por isso, muita compaixão para ela. Eu entendo. Naquele momento meu mundo se resumiu a isso. E se eu tivesse sabido antes de vê-la embora, eu a chamaria, sentaria, conversaria e demonstraria que por esse simples acontecimento, não importa o que ela fosse para mim ou o que eu fosse à percepção dela, eu também a via com muitos sentimentos. Isso faz me sentir humana.

Ainda que me reste incertezas. Ainda que me exija racional. Ainda que me porte fatalmente relativa. E por mais apolítico que isso seja e assumindo as conseqüências. Por mais escandaloso. Por mais desonrado e desordeiro para outrem. Sou deveras emoção. E é por isso que conscientemente da forma mais racional eu reafirmo que tudo que sei é que nada sei. Por mais que para a maioria o pouco que sabemos baste. E isso talvez me salve da estupidez. Ou talvez me eleve a ela. Ou talvez me faça crer novamente no homem. E me faça crer no outro. Na sua racionalidade e na sua emoção. E me faça querer novamente destruir a díade que rege nosso mundo. Mas talvez eu me decepcione novamente. Certamente decepcionarei. Lágrimas não me faltam. O mar. Nossos olhos. E a tempestade sempre vem. Nos novos, o medo da vida. Nos velhos, o da morte. Os ideais balançam. As idéias balançam. E até a nossa racionalidade balança, por tudo ser logicamente justificável. As evidências ironicamente são relativas. E o meu importar comigo balança. Com o outro também. Aumenta-se e diminuem-se as morais. E as amorais. E me importam as percepções que passo ou que falem porque essas também sou eu. Eu afirmo isso no presente e que não vai mudar no futuro. Isso me faz sentir indivíduo.

Contudo entre o humano e o indivíduo há algo que me faz pecar. O incansável poder da busca. E há algo que me faz querer ser menos indivíduo e demasiadamente humana. Minha característica e fraqueza exposta. Mas que ainda assim, balança. Porque na palavra essencialmente minha, não há pistola carregada. Ainda que eu tente. E eu não mudarei isso porque o mundo se julga injusto ou cruel.

Há dias que sinto. Desculpe-me. Nos outros, vivo. Assumo.

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