Ainda que eu não ande, eu corro.
Corro contra as intempéries da vida, contra os preconceitos, contra a solidão que aflige toda a humanidade. Corro contra a solidão de quem nada superficialmente num mar de muitos amigos.
Não que os outros importem.
Mas alguém importa. Alguém me importa.
Poucas vezes ao correr eu sinto em meu rosto alguma dor. Não há vento, não há frescor.
Há apenas uma sensação de quem teme. Sofrível a todo ser, humano. Porém, não tenho medo do amanhã, pois o que vem eu sei que já basta. Eu vivo, eu corro. E isso eu aprendi num último segundo, aquele que não foi suficiente para me bastar.
O que ocorre, então, é que na maioria das vezes o vento é seda. Quando tenho a completa consciência do meu ser, de forma que, os medos se amenizam numa realidade bela e mágica de quem venceu o contrário do que é vida. A realidade de quem por um fio a perdeu e, por isso, tenho-a comigo valorizada, palpitada em meu peito. E esse vento é o que afaga meu rosto, singelamente, numa doce música de ser capaz de ver o brilho dos seres ainda nos dias que julgo mais difíceis. E quando suavemente os vejo vir em minha direção, sim, aqueles de quem compartilham a minha esperança, tenho comigo a certeza de que não estou só.
E é por isso que talvez eu sofra de poucos dos males que agoniam a humanidade. Muito pouco comparado ao que vejo ao meu redor. Muito pouco. Quase nada.
E, também, pouco se sabe sobre o que eu sinto todo mundo sente.
Aliás, como todos, eu corro contra o tempo. Mas eu um segundo foi me dada uma escolha, sabendo lidar, então, na verdade eu ando com ele. E dessa certeza não se pode duvidar. É uma certeza. Pouco relativa e muito absoluta. A certeza da superação. A certeza de poder dormir e acordar para todo o amanhã. Estruturando e vivendo e respirando o meu eterno caminho à felicidade.
É modesto, mas é para você, Pedro Bertolini.
Tardou em ser feito o pedido carinhoso de um grande amigo. Não o deixaria para o próximo ano quando o obtivesse somente comigo à luz de tanta saudade.
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