domingo, janeiro 30

Quando te atrapalham a escrita

Conversa bastante afinada entre papéis de carta. Séculos atrás que talvez pudessem ser tão mais atuais, não fossem as formalidades das palavras e os belos costumes de civilidade arriados e esquecidos. Dois que não se conheciam, que, nem ao menos conterrâneos eram. Por uma escolha da probabilidade, da sorte, ou do destino – como dizem – aquela carta, vinda de muito longe, escrita tão dolorosamente – às pressas – a contar os novos ares acabou por restar na caixa de correios de quem ainda não entrara na história.
Foi quando a parte que se segue foi lida pela primeira – das muitas outras – vezes em que o interlocutor iria parar-se diante daquelas centenas de palavras ao observar apenas algumas e agarrar-se à carta como quem pede um abraço singelo no físico, mas de tão grande voluptuosidade na alma. “Quem proclama o fim, dá o recomeço. Quem sofre o fim, cala-se”, dizia o texto em questão. Algo, que para o leitor referido, parecia ter sido escrito como se retirado de outro canto, relevante ou não, e simplesmente jogado. Assim, essa parte tornou-se um trecho ao mesmo tempo frio e quente na sua vida. Um trecho desgarrado, um só texto. Inteiramente sem contexto. E depois, de tendo tão vivido, tão sonhado, tão acordado e tão recebido muitas outras cartas do remetente desconhecido a história terminou, sem ao menos ter um dia começado. E daí tudo virou-se como realidade, observada através da ilusão de um espelho.

domingo, janeiro 23

quarta-feira, janeiro 19

A tal da Liberdade


Julga-se que entre o sedentarismo e o nomadismo há um valor mais desenvolvido que outro. Entre todos que conheço tenho notícia de apenas uma família que seja nômade. Não sei se por vontade ou por necessidade, mas sei que são pouco bem vistos. Afinal, falta previsibilidade nas ações, falta confiança na palavra. Às vezes as idéias e os valores acompanham esse estado estacionário e, por mais que alguém tente libertar, a si e a seus pensamentos, eles permaneceriam agarrados a uma base intransponível e transparente. Que mal há em descartar um pouco da própria previsibilidade por um período indeterminado de tempo ainda que ele pouco demore a se findar? Talvez assim seja até mais fácil vencer as intempéries de um modelo a muito vivido e quando se enfrentarão contrariedades jamais habitadas.

Em 140 caracteres: É utilizar da plasticidade da mente humana para encontrar diversas maneiras de nos salvar das contrariedades das nossas próprias atividades.

Isso talvez seja a tal da liberdade. Isso talvez seja fazer si próprio o mundo girar.

E talvez seja isso compreender que se as coisas não foram entendidas, elas mal foram é explicadas.


Fig.: Cezanne, Paul. The Abduction (1867) 89.5 x 115.5 cm; Fitzwilliam Museum, Cambridge, UK

quinta-feira, janeiro 13

Simples, assim.


Diga-me com quem tu andas que te direi quem és.
...
Diga-me quem lês que te conhecerei.
Fig.: Presente de Drika Libanio deste blog