domingo, janeiro 30

Quando te atrapalham a escrita

Conversa bastante afinada entre papéis de carta. Séculos atrás que talvez pudessem ser tão mais atuais, não fossem as formalidades das palavras e os belos costumes de civilidade arriados e esquecidos. Dois que não se conheciam, que, nem ao menos conterrâneos eram. Por uma escolha da probabilidade, da sorte, ou do destino – como dizem – aquela carta, vinda de muito longe, escrita tão dolorosamente – às pressas – a contar os novos ares acabou por restar na caixa de correios de quem ainda não entrara na história.
Foi quando a parte que se segue foi lida pela primeira – das muitas outras – vezes em que o interlocutor iria parar-se diante daquelas centenas de palavras ao observar apenas algumas e agarrar-se à carta como quem pede um abraço singelo no físico, mas de tão grande voluptuosidade na alma. “Quem proclama o fim, dá o recomeço. Quem sofre o fim, cala-se”, dizia o texto em questão. Algo, que para o leitor referido, parecia ter sido escrito como se retirado de outro canto, relevante ou não, e simplesmente jogado. Assim, essa parte tornou-se um trecho ao mesmo tempo frio e quente na sua vida. Um trecho desgarrado, um só texto. Inteiramente sem contexto. E depois, de tendo tão vivido, tão sonhado, tão acordado e tão recebido muitas outras cartas do remetente desconhecido a história terminou, sem ao menos ter um dia começado. E daí tudo virou-se como realidade, observada através da ilusão de um espelho.

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