segunda-feira, janeiro 11

O Guardião de todo seu tempo

Arrumava as coisas no quarto. Analisava suas pulseiras, brincos e enfeites de cabelo quando de repente encontra o seu antigo e amado relógio. Aquele é um relógio especial. Foi-lhe dado como congratulações de sua primeira formatura, aquela em que se celebra a arte de ler. Foi seu primeiro relógio sério, porque de brinquedo, de bala e até desenhados de caneta já haviam muitos. Sério porque era nele que ela realmente acompanhava o passar das horas e por muito tempo foi por trás daquelas lentes que pautavam seus compromissos de criança. É um relógio lindo, judiado pelo tempo, lindo! O tempo desgastando o tempo... Que perfeição! Ela se pôs a lembrar de como esse relógio trouxe bons momentos. Brincadeiras, amigos... Mas ela viaja. Ela agora está encostada na coluna que sustenta a laje do quintal de suas escolhinha. Com seis anos, usa o relógio que lhe foi dado no ano anterior. É dia de comemoração. Aniversário da sua primeira segunda casa, a escolhinha que tanto ama, de muitas lembranças. O mágico pede o guardião do tempo pausado em seu pulso, ela esquiva. Na verdade ela teme pelo que pode acontecer com seu relógio. Ficar sem ele seria uma tragédia e ela não confia nesse homem que faz surgir e desaparecer as coisas. “Seu pó mágico pode acabar, ele pode aproveitar de se poder e roubar o meu relógio”. Enfim, seus pensamentos não há impedem de destravá-lo de seus braços e entregar seu tanto querido presente, as pessoas olham, ela desconfia. Pronto! Está feito! O relógio nas mãos daquele ilusionista não poderia ganhar bons destinos. Eis que o relógio é colocado no saco mágico e depois de uma sacudida ela se espanta. O seu relógio desapareceu, o que temos no lugar é uma ridícula ceroula moderna, vermelha e vulgar. Ela chora. Desespera-se pelo seu relógio, ela lamenta, lamenta muito. O mágico se apressa para desfazer a mágica, afinal, ao invés de aplausos, sua platéia anseia pela volta do relógio para minguar as lágrimas da menina que tanto chora. Ela não quer o relógio, ela quer as lembranças carregadas naquele objeto de volta. Ainda com ele em mãos ela continua a chorar o medo da falta. E por isso, ela decide voltar a usá-lo agora já adulta. Naquele relógio estão lembranças, choros e paixões. Ela gosta disso. Ela gosta desse encantador relógio. Antigo, amado, especial.

Um comentário:

  1. Hehe. Em certas passagens me lembrei do realismo fantástico de alguns escritores. Estou gostando do passeio por aqui. Vou continuá-lo das entradas mais recentes para as mais antigas. (...) Também gosto de escrever sobre memórias e prosas poéticas, apesar de estar parado a algum tempo. Se você procurar no meu blog, encontrará algo nesse sentido. =)

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