quinta-feira, fevereiro 26

Conceitos, para quê?

O postado anterior iniciou-se em uma discussão e tomou outros rumos não previstos, porém, em contrapartida, vieram em boa hora. Agradeço honrosamente a presença de um amigo na discussão, e foi por essa repercussão que a discussão se segue. Retomando, eu disse que, “milhares de pessoas deram, dão e darão suas vidas para a descoberta da verdade através da ciência”, e que a verdade é algo inexistente, inalcançável, talvez, pensando agora, talvez tanto quanto a realidade. Bem, foi colocado na repercussão que a ciência é um meio e não propriamente um fim, válido, muito válido e concordo. Interrogo-me, será que a ciência não seria nada mais que uma arte, em que se resguarda a tentativa humana de negar suas origens subjetivistas, isto é, negar o indivíduo, e tentar – utopicamente, ou talvez não – criar uma “arte” isenta de opinião? Acho que vale considerar que tudo isso é uma questão de percepção e ainda, pautar tudo isso de acordo com onde se deseja chegar com isso. O meu amigo disse que “ela é apenas uma das manifestações das capacidades humanas, não o todo, e muito menos a mais importante”, genial, o ponto é exatamente esse. Já o que ele considerou em seguida, como o meio falho de se chegar na verdade, talvez seja não a questão do método, mas a questão das considerações, talvez também, os tão ditos, níveis de análise. Acho muito válido, e quero utilizar dessa “arte” para tentar aperfeiçoar o mundo, torná-lo um lugar em que todos tenham oportunidade e sei lá, vivam felizes? Acredito que não só a ciência coopera para isso. Nenhuma arte deve acabar, e nunca vai acabar enquanto existir o homem. O que devemos pensar é, desde quando os valores de homem, propagados pelos os ocidentais seriam os que nos levariam ao desenvolvimento. Até mesmo a noção desenvolvimento implica nisso. Ser desenvolvido, civilizado é ser ocidental, compartilhar esse costumes, e desde quando eles são melhores ou piores? Como já disse é uma questão de DIFERENÇA. A tentativa que deveria ser levada ao mundo, aos orientais talvez, deveria ser a de coexistir sem que nenhuma diferença impeça o “crescimento” do outro, impeça a ação da “cultura” do outro. É daí, que se desencadeiam muitas outras coisas, como por exemplo a questão de ter valores que são altamente conflitantes, ora é daí que seria passível de utilizar de uma liberdade civil? Talvez essa seja também, não tão infelizmente uma discussão eterna, em que é difícil, ceder, trocar, respeitar, mas são características humanas. Bem, parar-me-ei por aqui, essas dúvidas são acompanhadas também de muitas limitações. Apenas finalizando, se é que a dicotomia é uma das coisas que se tem no mundo, lembro que para existir o mal, basta existir o bem, para existir injustiça só basta existir a justiça, para existir o Ocidente, basta existir o Oriente.

Um comentário:

  1. Satisfazendo o pedido que minha cara amiga me fez, pus-me a refletir sobre as questões levantadas nessa última postagem, assim como nas discussões travadas na anterior e no comentário realizado pelo André. Foi exposto que “a verdade é algo inexistente, inalcançável, talvez, pensando agora, talvez tanto quanto a realidade”, tal colocação faz muito sentido e é compreensível do ponto de vista de que as percepções variam de indivíduo para indivíduo, de acordo com a sociedade em que está inserido, com já foi dito, e que, portanto, a verdade seria relativa já que se denota que as percepções dos indivíduos são influenciadas pelo meio em que vivem. No entanto, acredito que ainda há muito o que se refletir. De acordo com um dos conceitos de verdade dados pelo Dicionário Michaelis, ano de 2002, tem-se: “7) Juízo ou proposição que não se pode negar racionalmente.” Então, utilizamos da ferramenta de nossa racionalidade para se chegar a verdade, ou dita realidade. No entanto, por mais que os seres humanos sejam racionais, não levaria o raciocinio individual a diferentes respostas? E isso não confirmaria o fato de que a verdade é relativa? A princípio, sim, não obstante, por meio da reflexão conjunta, acredito que determinadas ações que para um individuo são racionalmente corretas, podem vir a ser descobertas errôneas pela exposição de outro raciocínio que demonstre a falha do raciocínio anterior. Isso tudo, pode parecer inicialmente muito complexo, porém se nós, seres humanos temos uma grande vantagem, ela reside no privilégio de podermos, através da razão, melhorarmos a nós mesmos e ao mundo como um todo e, demonstrarei que essa pode não ser uma idéia impregnada de valores culturais. Desde os primórdios, o homem sentia a necessidade de ser amado, de viver em PAZ, e quando digo PAZ não quero complicar o que já está muito complicado, me refiro ao conceito de PAZ que todos temos e que se encontra no dicionário, traduzido para qualquer povo e em qualquer língua. É algo óbvio que pessoa alguma quer ser machucada, pois é instintiva a nossa luta pela sobrevivencia, e isso não é questão de valores e sim ao fato de que ninguém gosta de sentir dor. Se alguém foge a isso e se sacrifica para sentir dor, aí sim há um motivo externo que a faça fugir disso, talvez a esperança de uma recompensa terrena ou divina, por exemplo. Por meio dessa unanimidade, acredito ser racionalmente possível se chegar a verdades mínimas que poderão melhor delinear nossas ações para sermos pessoas melhores, pois se ninguém quer o seu próprio mal, por que fazer o mal a outrem? Porém, o que ocorre é que violência existe, apesar de ninguém se contentar com isso, assim como mortes, fomes e inúmeros outros fatos que a população mundial não se contenta em assistir. Isso porque, infelizmente, o homem também é dominado por desejos egoístas, de poder, ambição, por instituições e religiões que, às vezes, pregam a violência e, infelizmente, inúmeras pessoas passam a vida seguindo dogmas, tradições, valores culturais, sem ao menos se indagar se isso é realmente o mais correto. Então, poderíamos dizer que seria a verdade muito mais resultado de um debate “sofista” em que ganha aquele com o maior potencial de argumentação, ao invés daquilo que é mesmo a realidade? O fato é que, independente das falhas que mesmo a razão pode vir a apresentar, ela ainda se constitui no nosso melhor artifício para tornar nossas ações, lúcidas. Talvez ela ainda não esteja tão aprimorada a ponto de dar-nos todas as respostas que desejamos, mas não podemos desistir e pautar toda a nossa percepção em uma lógica desconstrutivista, que poderia ser entendido muito mais como o reconhecimento da “limitação” ou falhas do nosso próprio raciocinar. Isso é tão verdade, pois não é tudo que o meio externo tenta nos influenciar que é aceito pelos indivíduos, isso já nos demonstra um pouco da liberdade do nosso raciocinar. É indubitável que o meio influencia os pensamentos e ações dos indivíduos, como afirma Parsons, não obstante, acredito ser muito mais, como Giddens aponta, uma dialética entre isso e a concepção dos indivíduos moldarem e criarem essas instituições e valores. Essa é uma discussão, no entanto, que permeia a sociologia há anos, e ainda não há uma resposta definitiva. Assim, vivamos o que nos é apresentado e da maneira como é. Independente de nossa cultura e nosso meio, devemos tentar nos afastar ao máximo de sua influencia. Nossa cultura e tradições não devem ser utilizadas como justificativas para nossos atos. Acredito que não devemos desistir de buscar a melhor atitude, por mais que estejamos sujeitos ao erro, pois nosso caminho é feito de escolhas e, para cada escolha há uma conseqüência inevitável. Há que se respeitar as diferentes culturas e sociedades mundiais, mas há que se pensar que há muito em comum entre os povos. Talvez, se baseássemos nessa unanimidade, poderíamos chegar a verdades maiores.

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