domingo, dezembro 13

Não aos que amam


Se Santo Agostinho perguntou “O que eu amo quando te amo?” eu posso ser capaz de perguntar “o que eu não amo quando não te amo”. E essa pergunta abrolha por muitas fases da vida, ou pelo menos, deveria. Embora ambas não tenham respostas, elas se tornam por si só completas de explicação. Elas explicam intensamente, há muito por detrás dessas palavras que antecedem o simples indagar posto por um ponto de interrogação. E tudo que há por trás é de difícil entendimento pela maioria dos que amam, não são amados, ou talvez por quem somente procure o amor e que, por assim dizer, não ama. L’amour. É algo em que todos falam ou aquele para que muitos vivem. Mas não é algo que se procure, e ele ao menos deixa ser procurado. Muitas vezes sua ocorrência é forçosa, sai arranhado desde a garganta até onde adormece, no coração. Isso não pode acontecer. Não pode deixar também que isso aconteça. Puramente acontece. Sutil. Único. Se arranhar é outro presente, não ele. Pois o verdadeiro representa ser a vivência extrema de uma expressão traduzida por Pessoa: “quando te vi amei-te muito antes. Tornei a achar-te quando te encontrei”. Deve-se entender isso. Não forcem. É obrigatório entender os que não amam. Os que dizem que amam e não são amados vivem o que não passa da barreira de um simples deslumbramento, uma ilusão. Engano. O amor envolve a dois. Ainda que seja unilateral e vivido eternamente solitário em cada um. Vive eternamente só, esse sentimento. Não deixar-se forçar vai além de um modo de vida, uma maneira de ver. Além de uma dita seriedade, é um respeito evitando a violência contra si mesmo. É uma vontade incansável de tê-lo plenamente em si. Se assim não for, que não seja.

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