segunda-feira, dezembro 14

Sobre minhas agendas


Todas as agendas são inicialmente iguais. Vazias. Enumeradas pelo nascer e pôr do Sol. Enumeradas pelas fases da Lua. Mas ainda que correspondentes de fenômenos da natureza são incompletas. Neutras. São tristes as agendas novas. Estão descompromissadas com a vida de todos ou qualquer um. Porém, uma agenda começa a ganhar sentido quando alguém entende que ali poderá tornar mínimas as felicidades e as tristezas de muitas páginas de sua vida. Desde que tenha posse, a agenda se transforma de um inanimado comum para um ser importante, guardião de um tesouro. Os meus guardiões desse espaço de tempo nascem desidratados e famintos. Ainda bem. Logo a sede é convertida em metas e objetivos. Vai então o guardião se hidratando ao longo dos dias. Por sua vez, faminto por viver, simplesmente vive e isso basta para se tornar cada vez mais saudável, até que no finalmente eterno dos anos extrapolam um estado de saciedade tão intenso que se colocam a agradecer as colheitas do ano. As vidas pensantes dever ter esses guardiões consigo. As agendas no final do ano devem estar robustas, fortes, completas e complexas. Tenho particularmente uma satisfação incomensurável de ver esses organizados pedaços de celulose a gritar socorro, apertados em meio a milhares de outras coisas mais. Há quem olhe e tenha certeza do absurdo ver tantas coisas embutidas nos pedaços de papel. Mas é um júbilo analisar as feições de reprovação diante de tão singela obra da natureza, a vida e sua ocorrência. As pessoas deveriam experimentar ter mais esse prazer. Além de um prazer, esse guardião do tempo pode funcionar como um detentor de poções mágicas para o enobrecimento e para a cura. Enobrecimento de valor e cura para a dúvida. E quando cansar-se de tamanha loucura reduzida a fatias unidas em plena espera de acontecimento, de repente se apresenta outro guardião esperançoso pelo amanhã. É hora de dolorosamente trocar de ano. Desprover-se parcialmente do que ficou para trás. Mas é aí que nascem os tesouros de ontem esse tesouro é um segredo. Para um e para todos.

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