sábado, maio 30

Espaço Estratégico na Mémoria do Tempo


O silêncio do quarto faz salientar a música cantarolada pelos ponteiros do relógio. Bona sempre gostou da parte em que entregava seu eu àquela sinfonia dos deuses nada angustiante para ela. No fio de luz que a faz enxergar seu quadro, ela conversa com Napoleão que a ensina a ciência do emprego do tempo e do espaço – a estratégia. TIC, o tempo perdido, TAC, jamais pode ser resgatado. TIC, esse é um segundo, TAC, esse já não o é mais. Ela se sente num imenso mar de desperdício de tempo, bem no redemoinho que suga todas as gotas de segundo que a presenteia.

Aquele pingo d’água trouxe a esperança do futuro e a renovação do presente. Para ela realmente nada daquilo era tempo perdido. Seu espaço era sempre limitado, mas seu tempo era sempre infinito. Ela fazia seu tempo, e o tempo fazia ela. Estrategicamente. Talvez fosse isso o porquê dos outros não saberem utilizar seu próprio tempo tanto quanto ela. Não era privilégio, era estratégia e era arte só porque era também, ciência.

Ela tinha um céu estrelado em seu quarto e sempre dormia num céu com diamantes. Era só jogar luz no mesmo globo que é usado onde as pessoas se divertem. As luzes ao redor faziam um ambiente maravilhoso para ter belos sonhos. Tirava algum tempo para ao invés de tê-los, trocar seu globo solitário para ver os outros se divertindo. Tinha um imenso prazer em interromper seu balançado e simplesmente olhar os esqueletos se mexendo a sua volta. Ela sempre achou esse momento o máximo. Um máximo no finito que é nada mais nada menos que nada pouco. O tempo e um espaço, sustentado por um ritmo além dos segundos de um relógio. Por isso, o tempo perdido não pode ser resgatado como o tempo.

Por um momento ela deixou de ser jovem e quando voltou, com medo ficou de estar velha. Será que com mais idade teria perdido a noção do tempo? E quanto ao espaço, será que ainda continuaria sendo mesmo? Pelo sim ou pelo não, a infinitude estava naquela sinfonia dos deuses. Por isso, pelo agora ou pelo sempre, pelo tempo ou pelo espaço, talvez ela continuaria agindo da mesma forma. Não era privilégio, era estratégia e era arte porque era também, ciência.

Fig.: A Persistência da Memória (1931) , de Salvador Dalí. 24 x 33 cm. The Museum of Modern Art, New York.

quarta-feira, maio 27

Se eu tivesse poderes sob as minhas faculdades


Eu quero é viver muito para não ter pressa.
Eu não quero viver muito se for para ter pressa sempre.
Eu quero é viver muito para desfrutar de meu perfeccionismo.
Eu não quero viver muito se for para sofrer dos males que o permeiam.

Fig.: A Escola de Atenas (1509-1511), de Rafael Sanzio. 770 cm X 550 cm. Stanza della Segnatura, Vaticano.

segunda-feira, maio 25

É genti passano perna ni nóis


Nóis tava la no vizin pra preguntá si eli quiria um fiote de púdou até qui bunitim por dimais. Eli falô qui num sabia o que qui pudia dá pra eli cumê. A gente falamus qui era fáciu de cuidá i só aí intam qui o Tunico aceito o presenti qui nóis quiria dá pra eli. Eli só num sabi qui aquilu era um vira lata que nóis achô na rua e tava era cum medo de pegá duença. Coitado do vizin! Comu qui eli consegui sê tão igonoranti!?
***
Fig.: Personagem Chico Bento, Turma do Chico Bento. Maurício de Sousa

domingo, maio 24

Anos 2000


O pai se assusta ao ver sua inocente filha do primário a desenhar uma série de espermatozóides ao encontro do óvulo em seu quadro negro de estudos na sala de estar. Era do tempo em que ela aprendia ensinando à televisão, aos móveis da sala, às paredes e ao grande vazio. Com a reação do pai, a mãe singelamente ri na cozinha. De fato, estaria na hora dela saber das coisas da vida.

_ É Pai! Desses aqui, só um irá sobreviver, eu fui um deles! Já diria Vinicius:

"Óvulos se rompem
Crostas se bipartem
E de cada poro
Da minha epiderme
Lutam lepidópteros
Por se libertar. "

O pai sai, a filha e a mãe ficam e se entreolham harmonicamente. A filha fica em dúvida se continua ou não sua distração e divertido método de aprendizagem.
É chegada a hora do almoço, e ela se junta a seus progenitores.
***
Fig.: Um Embrião no Útero (1512), Leonardo da Vinci, Royal Library, Windsor.

terça-feira, maio 19

Ciné


Uma das invenções que eu mais gosto é o Cinema.
Para fugir do real, voltar no real, entender o real, inventar o real, destruir o real, viver no real, sonhar o real.

Um dos trabalhos mais empolgantes que fiz na vida foi resenhar sobre filmes como "O Poderoso Chefão"e "Treze Dias" numa das disciplinas mais interessantes que já tive. E a propósito, foi quando recebi um dos elogios públicos bastante inesquecíveis. A vontade na época era colocar aquele monte de informações Top Secret que tinha achado e fazer um trabalhozila, e num era tempo e cansaço que me abatesse, foi não só prazeroso mas prazerosíssimo, com todos superlativos que você quiser acrescentar.
Mas enfim, talvez os irmãos Lumière ficassem felizes com as proporções que o cinema tomou. É inacreditável que Auguste, um dos irmãos, um dia tenha dito que "o cinema [seria] encarado por algum tempo como uma curiosidade científica, mas não [teria] futuro comercial”, quando o que vemos hoje é o cinema como uma fábrica de dinheiro, e não somente isso, uma fábrica de muitas coisas.

E como grandes boas coisas, o cinema é escoltado por prêmios, festivais e ostentações.

Quem é o Oscar perto de um Cannes?


Acompanhem Cannes de 13 a 24 de maio.



quarta-feira, maio 13

A tal da Utopia Viável


O termo "Utopia Viável" não é meu, é do FHC, e, nós sabemos que são termos (teoricamente) contraditórios.
Porém, mesmo assim, empiricamente muita gente boa já fez muita coisa boa que seria impossível de realização aos nossos olhos.
Essa tal de "Utopia Viável" talvez comprove que, quem é impossível mesmo somos nós, porque o resto sempre pode ser construído, "o caminho se faz ao caminhar".
O que acha? Vamos andar?


terça-feira, maio 12

Não Segredo

Cury pode ter alguma razão:
"...uma importante característica dos grandes pensadores que brilharam na história: as grandes idéias surgem da observação dos pequenos detalhes."

Porém, de nada adianta alguém ficar procurando os detalhes, e nem resumir o raro a eles. Essas coisas simplesmente ocorrem. Não tem segredo.

segunda-feira, maio 11

Rosa Radioativa Rosa


A professora entrega as provas a seus alunos. É aquela quem ensinou a quem quisesse perceber que a vida é uma onda transversal de vales e cristas em que buscamos sempre manter o equilíbrio. As cristas seriam a parte feliz de uma vida feliz – o equilíbrio e nos vales se estaria na tristeza constituinte de uma vida feliz. Tudo isso depende da freqüência com que ocorra, a amplitude dos sentimentos elevados ou não ao eterno, os períodos e seus distanciamentos. E não é a toa que a representação da atividade do órgão que nos permite a vida é representada por essas cristas, vales e variações. Será mesmo que o equilíbrio só se consegue quando a atividade cessa? Nada mais que convincente e esclarecedor. Mas a professora e seu desenho permanecem coloridos na memória daquela aluna. A prova trazia na primeira página sentenças curtas, harmoniosas, lineares e substantivas. E aquela menina de 12 anos as canta baixinho num ritual de esperança e tristeza:
_ ... Pensem nas crianças... Mas oh não se esquecam da rosa da rosa ... A anti-rosa atômica sem cor sem perfume sem rosa sem nada
A professora olha para trás e diz:
_ Só poderia vir de você!
Mesmo com aquele sorriso singelo e cheio de satisfação, a menina não entende, mas a professora não esperava que alguma daquelas crianças conhecessem a Rosa de Hiroxima. De certo, ainda ninguém a conhecia, naquele lugar a soberania ainda permanecia assegurada. Mas aquela menina tinha dançado aquela música numa escola chamada Vinícius de Moraes. E ainda estava a procurar entender o porquê de ser possível escrever tal canção.

domingo, maio 10

Quem não cabe num título


Mãe é amor e por isso mãe é tudo.
Mãe merece muito, merece melhor.
Porque os filhos nunca são tão bons a retribuir-lhe o que merece.
Ser mãe é difícil porque o ser filho é muito mais fácil.
A essência disso é exatamente o porquê elas merecem o infinito de sentimentos bons.
O dia dela é todos os meus dias, é. Todos os 365 e as 6 horas, prorrogadas pelo são infinito.
Não deixarei que só me dêem um dia.
Nunca não somente.

Sempre sim estará.

sábado, maio 9

Mais que um contrato assinado, só a palavra


Ela viaja pelo céu num intenso e profundo mundo de sonhos!

Ruby-in-the-sky-with-diamonds... "Let me take you down, cause I'm going to strawberry fields, nothing is real and nothing to get hung about."

Ao despertar, se assustou e ficou com medo de não ser o que achou que iria ser quando crescer!
Ao olhar-se no espelho, respirou aliviada e...Ufa! Ainda ela, um pouco orgulhosa de si e feliz por ser o que é...

Ela está um pouco mais velha mas ainda sim, é a mesma outra pessoa de sempre.

Amem.

quarta-feira, maio 6

O LP


Aquele momento foi muito inesperado por Yahweh que decidira vasculhar os arquivos de seus avôs para fazer-lhes uma homenagem. Ela foi a mais homenageada. Encontrar rock em meio a boleros, pop e MPB em uma discoteca de quem não curtia esse som era a surpresa mais inesperada de todas as surpresas esperadas. Sentida a mesma sensação de encontrar o mapa do tesouro, de ganhar um prêmio, de ver de repente o amado atravessar a rua, ela abraçou aquele álbum em vinil. Ela perdeu os sentidos e mesmo assim, de uma forma que não esquecesse para sempre tal sensação. Ela juraria, momentos antes, que não seria capaz de tal ostentação por uma banda de música. Mas era mais que isso, era a banda que tocava o som que gostava, que dizia as coisas que a incentivavam a lutar pela mudança e que a confortavam quando estava descrente que tal ato seria possível. E não somente, também era o álbum que trazia no rosto o olhar da guerra na expressão de um menino. A esperança tomada pela desumanidade juntadas contraditoriamente de forma a impactar qualquer coração, até o mais frio. Naquele momento o que importava era a sensação trazida pelas ondas sonoras. Não era o sucesso nem o valor, era o sentimento. “She’s running to stand still”, em frente a vitrola.

terça-feira, maio 5

Chance


Aquele garoto acordou de um, agora definido como, passado momento. Nesta noite repousou e se esqueceu de seu brinquedo velho. Ficaram para trás doces lembranças, ele cresceu e não quer brincar mais. Um dia ele tirará o brinquedo da gaveta, verá o quanto esteve feliz e se lembrará daqueles com quem compartilhou a inocência e a felicidade.
Não é verdade que o Sol nasce todos os dias. Mentiu quem o disse. Naquele dia inesperadamente o Sol nasceu. E o céu esteve incrivelmente belo. O garoto percebeu que algo estava diferente e era como se ele avistasse melhor o seu caminho. Ele fez as pazes com o mundo quando aceitou a mudança, afinal, ele cresceu. Foi aí que ele entendeu, e não ligou de deixar muitas coisas para trás. Aquela sensação era maravilhosa e harmoniosamente diferente.
Ele ganhou um ticket para o fim do arco-íris. Só há uma coisa que o faria desistir de tal prêmio, mas ele ainda não a alcançou. Ele deve esperar ou deve explorar o desconhecido? Ele ainda permanece em dúvida.

segunda-feira, maio 4

Gripe Suína ou Crise Financeira: Será o fim dos cofres de porquinhos?


O mundo está em crise. Toda sociedade alerta: pandemia. Virótica e de Falta de Dinheiro. Onde estão as crises? Em muitos lugares e em lugar algum. O homem erra, realimenta o erro – assim diria o efeito borboleta – e quem sofre somos todos nós. Temos agora é que apertar os bolsos e tampar o focinho.
Só mesmo a Teoria do Caos para comportar todo esse sistema complexo e dinâmico em que vivemos, a realidade. Afinal, do que o homem possui controle? Não sabe definir o passado, estudar o presente e prospectar o futuro. O caos está na “essência de tudo”, vivemos é numa pujança de aleatoriedade.
Continuaremos tentando, só assim poderemos entrar num estágio superior de intelecto. Ou será que a evolução é acompanhada de um aumento na complexidade das interações?
Muitas perguntas, poucas respostas. Mas pelo menos temos uma moral da história: Fique longe de aglomerações, assim evitam-se os batedores de carteira que te deixarão mais pobre e o compartilhamento de microorganismos viróticos que te deixarão doente.

sábado, maio 2

Com traste


Poderia seguir o caminho da imbecilidade e dizer que não se fazem mais artistas como antigamente. Porém, a sistemática do mundo não muda, não muda o mundo, muito menos sua constituição. Já defenderiam os cientistas de que tudo se transforma e nada se perde - algumas vezes eles conseguem o feito de serem sábios. No lugar onde eles se encontram não se tem sabedoria e muito menos se amplia o horizonte. É preciso sapiência para não ser somente um objeto de especialização. Neste ponto, a especialidade é um contraponto. Liberdade. Ainda assim, defendem e lutam por ela. Essa bola é um azul de contradição e um verde de esperança. Ainda se fazem artistas. Bons ou ruins mas ainda sim, artistas. Já disse outrora que a ciência também é uma arte, aquela que busca objetividade. A natureza é uma contradição. E como bem implica, deixo a pensar, por fim, que ainda se transcende o que de início não parece ser belo. A imperfeição, ela é perfeita, bela. Perpetua-se como imperfeição, contraste.
***
Fig.: Os Comedores de Batata (1885), Vincent Van Gogh. 82 cm X 104 cm.

sexta-feira, maio 1

Pelos meios


O fim é a preocupação da sociedade. A morte, o amor, a festa, a sobrevivência, a dor. De todos os fins, o único que se justifica é o amor. As razões são muitas, a principal delas é sua perfeição e seu sentido, no indivíduo, no outro, na família, no mundo.
Os fins são tristes porque são fins, os fins são alegres porque nos realizam e nos gratificam pela luta e pela vivência. Porém, o fim só ganha sentido pelos meios. São aos meios, a luta e a vivência, que se devem comemorar os fins.
Todo mundo vive os meios, ninguém sente os meios. É como olhar o horizonte e não enxergar os pés que pisam o chão.
Os meios são imperfeitos e por isso são dignos de perfeição. Para morrer basta estar vivo, para existir felicidade é preciso saber o que é a tristeza. Para viver o fim é preciso passar pelos meios. A tristeza não faz mal, o bem faz mal.
A vida é um meio, o sonho é um fim. Se deve sonhar, mas é preciso viver. Na realidade ou no sonho. A realidade não é nada mais que um sonho. As realidades são sonhos, realidades.
Existem indivíduos e indivíduos. Somos todos iguais e diferentes. Nós compartilhamos meios e fins. E por isso, talvez, sejamos tão importantes e indiferentes uns aos outros.
Nada disso fará sentido se não antes sentir e, vivê-los, os meios e os fins.
Fim.


Orgulho e Preconceito é um filme que mostra a vida, como são importantes os meios, e como não se preocupam com os fins. Se não fosse aqui, discorreria linhas e linhas, imagens e imagens, experiências vividas e sentimentos.


Conheçam Jane Austen. O filme foi baseado em seus romances.


Há quem não perca tempo, acredito ser impossível fazer grandes feitos quem não se preocupe com tão pequenas coisas. Acrescentaria que o amor é mesmo humilde, mas não reduziria isto a somente sentimentos.