sábado, dezembro 18

A real beleza de virar anos

Não podemos ter a certeza de ter e não ter muitas coisas. Mas de duas coisas devemos considerar certo: não temos muita segurança enquanto vivos mas, temos sorte. A vida é inédita.

Virtuoso círculo

No imaginário comum, lutar!, para vencer.
Vencer e vencer, todos os dias, o cansaço de lutar.

Faz-se a luz. Faz-se o alimento. Faz-se o amanhã.

O céu se arama, paira no horizonte a figura imaginada de uma constante e intensa queda. As águas continuam se unindo e aquele pingo reluzente, continua só!

Lá embaixo o pólen. Continua a pairar no corpo da abelha. Abelha? Porquê?

Alguém grita: "Faz-se a luz!"

Exemplo Herói, o mais velho.

Ele é de longe a pessoa mais inteligente de que já conheci. Inteligência não é isso que a maioria diz, é o que a natureza evidencia. Não conjuga verbo, não gosta da comida de italiano, não gosta de fazer as coisas por improviso e tem uma visão de águia: daquelas de transformar coisas perdidas em ótimas produções. Mas ele sabe o que realmente importa. Fez mais coisa que muita gente que fala bonito, que fala difícil, que tem um diploma pregado na parede que não "prestou" nem pra tratar a humanidade com dignidade e respeito. Meu avô fugiu de casa mesmo novo, mas não foi pra fazer coisa errada. Mal sabia o futuro promissor que lhe caberia naquele ‘tchau’ amargurado da mãe, do pai, dos irmãos. E também nem adivinharia a paixão avassaladora que teria por aquela trabalhadora da única fábrica de tecidos daquela pequena cidade. Mas anos depois ele voltaria no automóvel mais bonito que aquele povo já teria visto ao vivo e a cores. A menção não está no automóvel por si, estão nos feitos legítimos pouco grandes, ora pequenos, aqui um deveras mal ditos. E na cidade até doutor tratava com respeito aquele homem que não se letrou, que não se formou, mas que viveu, tratando a todos como humano. E ele continua a mesma pessoa humilde na mente. “Alembra” quem um dia me disse pra traçar meu próprio caminho mesmo tendo carregado a herança de filha única a seguir o mesmo ofício dos pais. Mas quem o conhece mesmo, sabe o quanto ele faz em vida o que realmente importa. E restaria a mim somente lutar a ter tamanha consciência, se, eu conseguir, chegar, ou fazer algo como ele, ainda nos dias de hoje, com todas as dificuldades de quem conjuga o verbo.

Vasto Drummond. Pequeno o Mundo.


Removido pela autora.

*Imperfeita poética sobre Drummond. Adaptado e sem méritos no 16ºPNASR.

quinta-feira, dezembro 16

Rubia


Tens a cor do Rubi
Teu nome é cor.
Cor do coração.
Cor do Sangue
Teu nome é Rúbia
Nome de Rosa
Bela como a vida

De: Roberto, o Poeta na Bienal dos Piores Poemas
http://bibinhopoeta-contagem-literatura.blogspot.com/

domingo, dezembro 12

Meu eterno caminho. À felicidade.



Ainda que eu não ande, eu corro.
Corro contra as intempéries da vida, contra os preconceitos, contra a solidão que aflige toda a humanidade. Corro contra a solidão de quem nada superficialmente num mar de muitos amigos.
Não que os outros importem.
Mas alguém importa. Alguém me importa.
Poucas vezes ao correr eu sinto em meu rosto alguma dor. Não há vento, não há frescor.
Há apenas uma sensação de quem teme. Sofrível a todo ser, humano. Porém, não tenho medo do amanhã, pois o que vem eu sei que já basta. Eu vivo, eu corro. E isso eu aprendi num último segundo, aquele que não foi suficiente para me bastar.
O que ocorre, então, é que na maioria das vezes o vento é seda. Quando tenho a completa consciência do meu ser, de forma que, os medos se amenizam numa realidade bela e mágica de quem venceu o contrário do que é vida. A realidade de quem por um fio a perdeu e, por isso, tenho-a comigo valorizada, palpitada em meu peito. E esse vento é o que afaga meu rosto, singelamente, numa doce música de ser capaz de ver o brilho dos seres ainda nos dias que julgo mais difíceis. E quando suavemente os vejo vir em minha direção, sim, aqueles de quem compartilham a minha esperança, tenho comigo a certeza de que não estou só.
E é por isso que talvez eu sofra de poucos dos males que agoniam a humanidade. Muito pouco comparado ao que vejo ao meu redor. Muito pouco. Quase nada.
E, também, pouco se sabe sobre o que eu sinto todo mundo sente.
Aliás, como todos, eu corro contra o tempo. Mas eu um segundo foi me dada uma escolha, sabendo lidar, então, na verdade eu ando com ele. E dessa certeza não se pode duvidar. É uma certeza. Pouco relativa e muito absoluta. A certeza da superação. A certeza de poder dormir e acordar para todo o amanhã. Estruturando e vivendo e respirando o meu eterno caminho à felicidade.

É modesto, mas é para você, Pedro Bertolini.
Tardou em ser feito o pedido carinhoso de um grande amigo. Não o deixaria para o próximo ano quando o obtivesse somente comigo à luz de tanta saudade.

domingo, dezembro 5

Variações Assiduísticas


Meus colegas de geração não se expressam assiduosamente. Nem mesmo são escritores assiduantes. Só que de forma assídua se lhes tem outras coisas. Clientes assiduosos no assiduar do sistema de todos os dias no assiduesmíssimo cotidiano.
Assíduo: Pouco Exato.

terça-feira, novembro 30

Trocando Méritos


Quando pequena, educada e traquila. Mas a vida lhe ensinou também, além de tudo, a dizer não, rispidamente.

"Muitos méritos" - ouvia.

Mas ela os trocaria para que depois da tempestade viesse a bonança.
"Poço de ignorância!"

Se eu faço, tu...


_ Como ousas... Como ousas ameaçar a aplicabilidade da palavra concedida num momento de profundo tremor. - Pensou ao acordar no meio da noite.


_ Como ousas... Como ousas proclamar o fim do interregno e jogá-lo à eternidade sem ser nem mesmo dono do destino. - Respondeu ao ver o absurdo


_ Como ousas... Como ousas isso dizer sem rimar.

Questionaram me...


uma pergunta interessante que eu hesitei em responder:

"Será que esta casa vai resistir ao tempo?"

segunda-feira, novembro 15

quarta-feira, novembro 3

terça-feira, novembro 2

Miragem Perene


A terra onde resta a miragem perene,
entre o positivismo e o teleológico o nada propositivo.
O livro, as palavras, os discursos,
o pragmatismo faltante.
E o teu futuro espelhará a tua grandeza, terra adorada
Entre outras mil és tu, Brasil?

quarta-feira, outubro 27

Maldade ou vaidade ou tudo que a dúvida não é

Qualquer amarra é uma mazela. Entretanto, existe o oposto de que a criação de um trabalho pautado por poucos elementos, que se limite a um objetivo, ou a um tema, ou a um pedaço da realidade, crie uma personalidade.
Vez ou outra essa personalidade é questionada. E daí vem o desejo de mudança. Mas o primeiro passo pode ser esquivado pelo anseio de perder o mérito que lhe era atribuído. A inócua pseudo-revolução, ainda que do pensamento, reforça a ordem, e tudo volta para o lugar de onde nunca saiu.
Então eu questiono, adiciono ou não adiciono elementos à minha querida criação?

quinta-feira, outubro 21

Tentar dizer quando longe




Passa sete horas à frente do papel e nada sai. A única coisa que resta é uma palavra: aquele nome que não deve ser escrito, nomeado. Que sequer deve ser pensado, mas que a ocupa.
As outras palavras que a elevam ficam retidas a um só nome, escondidas. Sem fingir, demonstra que seu mundo se acaba quando não está perto.
Mas no fim se esconde o que se precisa dizer.
E quando da ocorrência de um olhar, se diz.
Calando as palavras, mostrando as evidências.
Mas te deixar, pela última vez.

quinta-feira, outubro 7

Faz diferença em primeira pessoa



O olhar daquela mulher me fitando confirmava o que eu iria saber momentos depois. Eu a lembro a sua filha, morta de forma fulminante quando ainda era nova. E não há nesse mundo sentimento absoluto que me faça descrever de forma rápida o que foi descobrir algo assim na minha vida. Algo assim ainda hoje, quando sinto as coisas balançar. Deve haver em mim, por isso, muita compaixão para ela. Eu entendo. Naquele momento meu mundo se resumiu a isso. E se eu tivesse sabido antes de vê-la embora, eu a chamaria, sentaria, conversaria e demonstraria que por esse simples acontecimento, não importa o que ela fosse para mim ou o que eu fosse à percepção dela, eu também a via com muitos sentimentos. Isso faz me sentir humana.

Ainda que me reste incertezas. Ainda que me exija racional. Ainda que me porte fatalmente relativa. E por mais apolítico que isso seja e assumindo as conseqüências. Por mais escandaloso. Por mais desonrado e desordeiro para outrem. Sou deveras emoção. E é por isso que conscientemente da forma mais racional eu reafirmo que tudo que sei é que nada sei. Por mais que para a maioria o pouco que sabemos baste. E isso talvez me salve da estupidez. Ou talvez me eleve a ela. Ou talvez me faça crer novamente no homem. E me faça crer no outro. Na sua racionalidade e na sua emoção. E me faça querer novamente destruir a díade que rege nosso mundo. Mas talvez eu me decepcione novamente. Certamente decepcionarei. Lágrimas não me faltam. O mar. Nossos olhos. E a tempestade sempre vem. Nos novos, o medo da vida. Nos velhos, o da morte. Os ideais balançam. As idéias balançam. E até a nossa racionalidade balança, por tudo ser logicamente justificável. As evidências ironicamente são relativas. E o meu importar comigo balança. Com o outro também. Aumenta-se e diminuem-se as morais. E as amorais. E me importam as percepções que passo ou que falem porque essas também sou eu. Eu afirmo isso no presente e que não vai mudar no futuro. Isso me faz sentir indivíduo.

Contudo entre o humano e o indivíduo há algo que me faz pecar. O incansável poder da busca. E há algo que me faz querer ser menos indivíduo e demasiadamente humana. Minha característica e fraqueza exposta. Mas que ainda assim, balança. Porque na palavra essencialmente minha, não há pistola carregada. Ainda que eu tente. E eu não mudarei isso porque o mundo se julga injusto ou cruel.

Há dias que sinto. Desculpe-me. Nos outros, vivo. Assumo.

domingo, outubro 3

Do peso ao arraste.


A cada movimento, a culpa.
A quem recusou um almoço, as colheradas progressivamente se tornam cada vez mais pesadas. A culpa é tudo o que ocupa os órgãos exasperados que irremediavelmente gemem de dor.
De dor do excesso.
De dor do incansável.
De dor das tentativas fracassadas em poder lutar contra as paredes de tecido que os impedem de explodir.
De culpa.
De culpa.
A pouca comida que resta parece um banquete. A fome já desconhecida se esvazia e se enche culposa.
Tudo o que resta é culpa.
Vigora-se o estômago, nutrindo o desejo de sobreviver na tentativa arrastada de lutar contra as intempéries da vida que o enchem de mais desejo de dolo.
E o corpo pesado imagina-se sustentado, até que no só, o olhar para longe e o céu nebuloso, a imagem pára. O olhar cansado de uma mulher analisa fixamente a personificação da culpa. Leva-lhe a palavra mentindo. O sorriso santificado se acende em bondade a quem não merecia. O corpo se liberta. A mente se liberta. O hoje aparece em exclusão do passado e todos os movimentos se revezam.
Em seu real teor.
Leve.
Fig.: El Hechizo de Merlin, Burne-Jones

sábado, outubro 2

Protocolado - Pág. 7 (Arquivo Simplório)

Duas sentenças removidas pela autora
Figurante: W. Maguetas - Lembranças 50 x 60 cm

segunda-feira, setembro 20

Sentimento Palestino


Não sei se vou ou se fico.
Se luto ou definho.
Ganhar,
esse sentimento Palestino.

Carregar, perder?
Um fardo,
Sofrer.

Sentença à certeza.
O meu real enobrece o seu viver.
Minha vitória. Vai ver.
Vai ver.
Vai ver.

Fig.: DALÍ, Salvador. Cabeça de Guerra.

quinta-feira, setembro 16

Autobiografia aos 9 Anos

Meu nome completo é Rúbia Pereira Rodrigues eu tenho 9 anos eu nasci em 05 de maio de 1990 eu estudo no Colégio São Paulo da Cruz na 3ª série DS eu moro na Av: (retirado) eu gosto de dançar, cantar e brincar eu já escrevi seis livros.

10 de Agosto de 1999

Mudança

Na minha cidade não há muitas coisas a mudar...
Se eu pudesse tirava todas as crianças das ruas, construía um orfanato e habitava elas lá. Não há tantos ladrões assim não, mas se eu encontrasse um colocava logo na cadeia. A prefeitura como ela já faz vai em nossas casas e vê se tem algum caso de dengue, mas ainda continuamos com alguns casos, do ano passado para este ano, a dengue abaixou (sic) muito o número de casos nos hospitais.
Bem, isto eu gostaria de mudar, mas bem que o governador devia fazer outras coisas como; construir mais museus, cinemas, que têm só na maioria dos shoppings, mais pontos turísticos perto de nossas casas.
Eu acho que agora não tem nada há mudar não, mas têm tanta coisa que para a gente está bom e que para outras não está, por isso nunca se sabe.

FIM

RúPeRo (10/08/1990)

P.S.: Baseado no caderno "Produção de Texto" - 1999 e preservadas as características textuais. Criança sabe das coisas!

Canto essa canção: Quando o Marajá toca a cítara


Piano.
Piano.
Desculpe, mais piano.
Mais piano.

Certo. Certo. Isso! Muito bem.
Ao sinal, da capo.
Agora...
Da capo.

A margem some. Dado objetivo, a vida jorra. Sólida, a margem desmancha. E prima, no ar, por ser, tão próxima, tão distante. Tão distante, tão sólida.

Entendo, não consigo acreditar nas notícias de hoje. O dia some, desmancha. No tempo, quanto essa canção.

SEURAT, Georges. Le Chahut, 1889-1890, óleo sobre tela, 169 x 139 cm; Otterlo, Kroller-Muller Museum

segunda-feira, setembro 6

Deterrência


Naquele tempo, corrompi-me de palavras.
Houve o tempo em que delas me afastei.
E afastando e aproximando iam se passando as circunstâncias... E as pessoas vivendo...
Eu, menos navio e mais farol deixei que a natureza mutasse... e mudasse... e parasse como se nada fora natural, mas constante. Como se o mundo fosse o novo, transformasse tudo o todo sempre.
Agora, as disposições das coisas alteram enfurecidas, entorpecidas e, enlouquecida fica algumas outras espiar.

Suas vozes tristes,
e a minha, como se neutra, compõe aquele seu quadro pintado de cores quentes.

Frígida é a sua companhia de cantos desafinados,
e eu, em voz de soprano, sigo apenas técnica e minuciosamente o mando das notas.

Um pouco das minhas mudanças, pouco.
As delas, abalos.
Minhas mudanças, pouco.
Fig.: Grace Kelly, detalhe: vestimenta

sábado, agosto 21

quarta-feira, agosto 18

Sem imagem ou título porque seria infinitamente infiel qualquer tentativa

Aquele sapato.
A obra de arte digna de fazer parte da Coleção Brasiliana do Setubal.
Sim, colorido e brilhante e indescritível como pena de pavão.
Ser leiloado e cobiçado.
Mas não tenho técnica, croqui ou expressão
Aquele sonho tão mais real que essa sensação a que presencia quando se está acordado.

terça-feira, agosto 17

Choro e feliz: Metalembrança em Drummond

Aquelas que não caíram.
Rua da Bahia.
Minha estupidez.
O mal do mundo.

Entre BH e Itabira.

terça-feira, agosto 10

segunda-feira, agosto 2

Poema simplório: de passos

E a cada passo de tempo restante,
espero na solidão da ausência de seus passos.

E a cada passo
O nosso burburinho
Fica sem espaço.

Vem devagarzinho
Direto pro nosso paço.

De passos,
devaços.

Abraços,

sábado, julho 31

Se se afoga

Serias tu capaz de imaginar o único tempo que nos é tempo?

Mensurações Galácticas


Mas para trás,
eu sempre iria.
Não sei pra onde, nem pra quando,
a morte eu sei que adiaria.
Quantas idéias eu perdi?
Diamantes no céu,
e uma grande pérola.
A lua costumava atender os meus pedidos!
Quantas pérolas teriam meu colar se contasse todas as noites peroladas do céu?
Seria possível adivinhar.
Alcançaria o diâmetro da terra?
Não sei.
Viajaria da lua ao Sol?
Talvez.
Contornaria a terra como num globo de espelhos, as pérolas!
Que ostra é essa que fabrica esta imensa que olho?
Que areia ou impureza se transformou nessa linda e pequena esfera levemente dourada e brilhante?
Mas que tristeza foi essa?
Ostra feliz não faz pérolas.
No céu a orbita de diamantes me causa essas mensurações galácticas!
E se vai, com isso, incompreendendo o compreensível.
Inimaginando o imaginável.
Realizando o irrealizável. Mais conhecido vulgarmente como impossível.
Ah vá lá né!
Quantas sinapses seriam precisas?
Precisas de necessário, ou, precisas de acuidade?
Se eu tivesse anotado todos os sonhos nesses 20 anos, nessas tantas luas, pérolas e diamantes,
Eu sei que uma bíblia de histórias eu teria.
E pra publicar só se fosse a pergaminho!
Nunca acabariam essas oito horas diárias de milhares de sonhos... e sonhos de mais que oito!
Por que sonhos eu sonho só, então, eu praticamente só sonho.
Não sonho junto, nem sei o que é realidade.
Sei que é raridade!
No início me lembrava de um, dois, e estou no três...
Será possível, um dia, lembrar de todos os sonhos de uma só vez?
E que Chá é esse de Melissa e Anis Estrelados?
Nomes lindos pra concorrer merecidamente com Julia, Alice e Sofia.
Só tendo muito filho,
para dar tanto nome bonito,
Meu Deus!
E quantos chás se fariam
com a água fervente do banho?
Ora, quantas misturas, colorações, sabores e companhias!
Ah! Companhias!
Mas sonho se sonha só.
Realidade se sonha junto!
Como é que eu pude esquecer-me de anotar todo dia
Um sabor diferente de comida?
Como é que eu me não me lembrei de não esquecer todas as sensações?
É que quando elas passam, não voltam.
Nunca se sente nada duas vezes.
Quantas flores existem no meu jardim?
Nenhuma.
Eu não tenho jardim!
Mas...
Quantos sentimentos existem no mundo?

Para

Pararias se pedissem que pare?

quinta-feira, julho 22

Protocolado - Pág. 9-10


Removido pela autora.

Fig.: Eliseu Visconti, Trigal, Coleção Particular, 60 cm x 80 cm

sábado, julho 10

Do café a música viva


Um café vida em meio a uma cidade morta. Cidade que morta vivia inconsciente a uma causa que lhes foi imposta, digo, a todos que ali permaneciam. Como pessoas que mortas vivem em corpos também formados por outros e correm para ficar parados à frente de telas diversas, de pequenos e grandes tamanhos, de belezas e artes indefinidas. E aquele café, naquela cidade morta, vivia. Como se todos que ali restassem, e festassem, e procurassem algo tão diferente, finalmente vivessem um sopro inspirado em meio aos cadáveres.
E o pandemônio ensurdecedor que era aquela cidade – onde sua grandeza restava apenas para o que se prestava - se silenciava a quem entrasse por aquela porta verde radiante, numa parede turquesa brilhante, com janelas da mesma cor da porta e, mesas e, cadeiras da mesma cor da parede, de forma que, quem ali sentasse de longe pareciam flutuar num ponto vivo da cidade morta.
Mas lá dentro, o que se escutava era Bach, Cello Suite nº 1 Prélude, sempre. Em notas de vida na sinfonia daquela cidade morta. E o repertório era o mesmo, não eram as pessoas mesmas, os livros mesmos, as conversas mesmas, as perguntas mesmas, as filosofias mesmas, os filmes mesmos, que passavam nas camufladas por pinturas, pequenas salas escuras. Mudava tudo. Ou talvez nada. Os timbres mudavam, mas ainda eram sopranos e tenores. Migalhas de gente, de nada, de quem não nada na solidão de muitos amigos. De quem não só encontra a outra metade perdida do tempo em que se conheceu. De quem não só vive os paradoxos da vida, dos graves aos agudos, mas os sente multiplicados de formas diversas, e ri de quem os teme. Mas no fim a cidade também vivia. Ainda que na temperança morta do temor daquela cidade viva ou dos subterrâneos selvagens civilizados pelo que se tornou reinante. Mas a rainha estava morta. O rei estava morto. E, acabaram-se as perguntas. Soterraram as respostas. O que ainda não se aviltava naquele ponto de luz que vive finado na cidade morta.
Fg.: Van Gogh. Café à Noite (1888). Yale University Art Gallery, New Haven

terça-feira, julho 6

quarta-feira, junho 30

A bola entre ele e o mundo


Era um dia comum para a mulher que saia a ir ao trabalho, ao chegar à garagem, seu carro não pegou. Ela estava muito feliz e satisfeita com as últimas notícias para se enraivecer ao ter que pegar ônibus. Estava mesmo com sorte, desta vez estava vazio, tinha lugar para sentar. Sentou-se e desligou o mundo. Ao olhar para fora do ônibus, não reparava em nada, só ficava pensando em sua vida e nos jogos da copa do mundo. Ela, que tinha aversão a futebol estava empolgada com a emoção sentida nos jogos, escolhia logo uma seleção e torcia até o fim já que seu país não estava representado. Trabalhou concentrada, sem muitos embaraços, estava num bom dia. Ao voltar para casa, novamente ao chegar ao ônibus, apenas dois assentos. Sentou-se ao lado da pessoa mais alheia, que não lhe traria problemas caso abrisse um livro e começasse a lê-lo. Naquele dia, ao sair do trabalho, tinha comprado um livro cheio de desenhos e imagens que retratavam fielmente a estória para seu futuro bebê. E ao acariciar sua barriga, ainda pouco mudada, imaginava somente momentos bons. No último ponto da estação, o ônibus pára e demora, ela guarda o livro na bolsa e olha para a multidão, lá fora. Numa surpresa, depara-se com uma turma de meninos, todos uniformizados de forma que pareciam sair de uma bela partida. Conversavam e olhavam para os próximos ônibus que vinham. E foi naquele olhar, que ela simplesmente viu o futuro e queria a ele saudar:
_ Ei! Menino! Você tem vontade de jogar um mundial? Sei bem que tem, vejo no seu olhar um herói nacional. Corre, corre que chegará sua vez, tenho certeza! Lute pelo seu sonho.
Mas não o fez. Continuou sentada no conforto calculando que teria notícias dele daqui uns dez anos, descobrindo-o por acaso assim como naquele dia. E, mesmo que ela não tenha gritado para aquele jovem, ela contará a ele que o viu pegando o ônibus, próximo à estação. Com um olhar indescritivelmente claro de quem leva seu país ao sucesso e ganha, pela primeira vez na história daquele povo.

“When I get older,
I will be stronger,
they’ll call me freedom,
just like a waving flag”

domingo, junho 27

Protocolado - Pág. 9


Removido pela autora.


Fig.: Pietro Perugino - Apolo e Mársias

sexta-feira, junho 18

Dicionário


Antes da contribuição de hoje preciso dizer em primeira pessoa que não posso agir na negligência de que há neste canal autor e leitores; é preciso então fazer um esclarecimento. Texto e imagem aqui se entrelaçam em um princípio fundamental: um não é legenda para o outro
***
A história é mais ou menos assim. Há quem se identifique com ela.
Na primeva, a referida paixão era tomada por livros de figuras mágicas e contos de fadas. Na ausência da habilidade de assimilar a leitura das palavras com o que se escutava ou falava, enquanto alguém lhe contava a estória, ficava a admirar as imagens. Mas, o que se há de fazer com a verdade de que “texto e imagem entrelaçam-se em um princípio fundamental [de que] um não é legenda para o outro”. Era necessário aprender a codificar as palavras e entendê-las sozinha para que fosse possível cantar o hino da independência e fomentar sua própria paixão.
Ganharam destaque os livros didáticos, ensinando a ler, contando estorinhas batidas e contando musiquinhas infantis. Passar muito tempo com esse tipo podia até ser legal, mas, era aprisionamento demais, maçante demais: tinha que fincar os pés no chão. Necessário seria se desprender de novo. Mas que nada. Praga que se alastra por todo tempo, por todo espaço, acaba o inútil se tornando útil quando os parâmetros se confundem e a utilidade ganha diversos valores.
Ai, ai! Mas é aí que se foi possível alcançar os livros da viagem, os incapazes de se reduzirem a uma só palavra, ou texto, ou interpretação, o que é a compreensão se se representada a materialização do infinito palpável. Só pode ser magia de alimento para a limitação da racionalidade humana e o freio para a irracionalidade. Não. Tem um tipo de livro que pode, mas não deve acompanhar quem permanece no almejo de se desprender. Limitantes, também maçantes, finitos e capazes de cegar. O dicionário. Substantivo masculino: 1- Enquadrador de sentidos na busca de uma comunicação objetiva, sempre antiquado. 2 – Aquele a quem se recorre na busca de significação para inteligentar o emburrecer. Triste fim e interrupção a quem lê. Pausar a infinitude da imaginação para recalcar o pensamento no cimento do dicionário: só pode ser coisa de realidade positiva, e sombria.
Então se ergue o timbre da razão, monótono em canto gregoriano:

_ Há ordem e progresso se continuais a ler, mas não deixe de me visitar com amor, mero mortal, por que sabes que precisarás de mim. Pois eu, que aqui estou, por vós, espero.

quarta-feira, junho 2

Não envelheço, penso.


Tive que trocar as escadas por uma rampa. Quando os joelhos já não mais funcionam como jovem o melhor é não sentir a efeito falho de dobrá-lo consecutivamente para não ter a sensação de já estar velho demais para executar ações banais. E quando o fisioterapeuta, alto, forte, de pele branca e lisa entra por aquela porta conversando comigo como se eu fosse um bebê ele não imagina que aqui dentro ainda está aquela linda jovem de 20 anos que um dia desviava olhares na rua. E ao pegar na minha perna, ele a dobra. E enquanto ela vem e vai, vem e vai eu fecho os olhos para amenizar a dor de forma que me faz árdua não voltar aos 15 anos. Eu, dentro de uma saleta repleta de penumbra e luz, ao som de Tchaikovsky num piano meio desafinado a forçar imensamente uma dor que na época era mais vício. E os fouettés pareciam naturais, eu podia voar. Ele me levanta da cama e a amizade intensa nos permite brincar de rodar, como se eu fosse criança. Eu novamente fecho os olhos para amenizar a luz forte que bate nos olhos e me causa mais cegueira. Ah! Um belo homem que podia ser meu neto, crueldade, se tornara a constância diária de meus pensamentos. Pecado seria relatar isso a alguém. Agente se torna velho e todo mundo acha que já estamos mortos. Quando nos olham a primeira associação é o encantamento, não há desejo, não há paixão, só restam os sentimentos medianos que todo mundo guarda no baú, para abrir nos dias de solidão. E essa brincadeira de roda parece eterna. E vamos girando sem fim como uma película de filme, se vão ultrapassando meus dias, minhas noites, quando o filme vai sendo cortado em alguns pontos e aplaudido em outros. E tudo que eu desejo é que o filme não acabe, não acabe. Mas ou se acaba ou se queimam aquelas belas imagens. Então, para não se esvaírem os agradecimentos, agente produz uma feliz e bela Coda. Eterna, sincera e roda. Os sons vão ficando piano, cada vez mais piano. Coloca-me em seus braços, berço e durmo.

sábado, maio 22

domingo, maio 16

Decidi voltar

E naquele tempo, clamavam...
O que nos resta é o desejo comum de voar. Ver a vida passar como que pássaros em direção ao horizonte infindo e indefinido, a sentir somente a brisa que toca o corpo causando conflito. Folha que percorre o curso do rio indica harmonia e não-mudança; folha que muda o sentido salta e ressalta o conflito natural existente. Conflito harmônico, conflito infinito, conflito que para e apara a realidade. Conflito que muda. E voar é a arte de se mover em intenso conflito com a natureza, talvez por isso seja tão difícil a natureza humana voar. Somos inicial e prematuramente avessos ao conflito. À medida que crescemos, melhor entendemos essa verdade que se consagra súbita e inquestionável, o que seria dizer que nos conformamos. Resta-nos a eterna esperança da harmonia. E, desenrolando, resta-nos almejar utopicamente, a cada momento do dia. Perfeição. De uma forma ou de outra a maioria quer o que não se tem. Acabam esquecendo de vislumbrar o memoramento do que se tem, do que se teve, do que se pode ter. Tão simples usar o mesmo verbo em três formas distintas a dizer nada parecido. E o curso do rio não muda. Fixa é o fluxo. Desde milênios, esse rio que aqui perpassa, do frígido ao caloso solo, se acaba por debaixo da terra. De longe está a alcançar a imortalidade do mar. E no infinito que se preza pelo prazer do saber vivido por poucos, desconhecido por muitos. E voar se torna uma atividade leve e fácil, como se impulso involuntário fosse flexionar os membros para o salto. E mesmo que a unidade do ideário não se hesite em fazer voar, se sente. Sentir como o pássaro, o animal do carma ao conflito. E andar, e falar, e levantar os braços em contrapartida, fica difícil. Tira-se um tento, se ganha o outro.

quarta-feira, abril 21

sábado, abril 17

Ave


Gavião, por que tão próximo?
De onde surges? Como ficara? Se o que te chama é delível e já chega.
Gavião, não tens alma má e egoísta, tens fome e olhos avassaladores.
Não és gavião, és águia. Se te olho não tenho dúvidas, mas se me olhas abarroto-me delas. Nunca saberemos mesmo quem somos!
Nem nas aparências, nem na perseverança.
Voa, voa na luz da manhã. E só voa, e só voa. Não entendo.
Sabiá não te deixou também não te levou. Esqueça.
Seria pior esquecer-se de si...
...não se deixe só gavião. Não se deixe só.
Sem medo, pode se aproximar.
As flores são doces e belas não duvide de sua aparência,
mas dessa imagem que reflete na água enquanto voa.

quarta-feira, março 31

sexta-feira, março 26

Erros de Minalua


Galinha D’Angola tem medo de tudo, desconfiada que só ela, foge de todo mundo. Mas ela é bonita demais, enquanto ela foge e corre, sua sainha vai balançando, é a coisa mais alegre desse mundo.
Minalua adorava sua D’Angola, queria muito dar uma folha de alface no seu bico, mas a D’Angola sempre saia correndo e a Minalua saia chateada.
Ela chamava a D’Angola, vinha pato, marreco e até a galinha cocoricó, só num vinha ela, se fazendo de difícil com seu ralinho penteado preto e branco de dar dó.
Minalua ficou com raiva, decidiu dar a D’Angola para sua prima.
A D’Angola acabou sentido falta da Minalua, ficou triste, adoeceu e morreu. Minalua ficou triste, não sabia que a D’Angola gostava dela, afinal a bichinha sempre fugia!
Então, a menina adotou outra galinha. Fez um cantinho especial para ela dormir e até um refeitório. Assim, ela podia dar o alface que não comia no almoço para a galinha sem ter que correr atrás dela. A D’Angola não iria mudar mesmo, sentir medo era de sua natureza, Minalua que teria de adaptar.
Minalua gostava mesmo da sua D’Angola. Corria atrás dela só para ver sua sainha arrebitada se alterar entre o preto e o branco. Mas o alface ela deixava lá, para a galinha se aproveitar enquanto tivesse vontade.
Foi assim até que Minalua mudou para um apartamento. E não podia levar sua D’Angola.
Ia embora sem se despedir, a D’Angola ficou sem seu alface do dia e correu atrás da Minalua enquanto ela chorava. Minalua, atrás do carro, se afastava, e a D’Angola corria para cantar a sua amiga ao menos uma melodia, Adeus...

sexta-feira, março 12

Único Manifesto


Uma ode daria a esse ensurdecedor movimento de engrenagens vivas e mortas. A travessia pela cidade, o passado revivido e que já não mais faz sentido, os apertos de mão que de efêmeros passam a infinito, eterno amor agressivo ao perigo retido em versos. “Não há mais beleza senão na luta”. Como que sabia Marinetti se demorará anos para que esse muro construído a sua volta seja finalmente demolido? Sua exclusão ao outro lado do mundo se deve a pensar que, parafraseando-o, o calor de um pedaço de papel é já mais apaixonante, para nós, do que a imagem de uma mulher.


“Imagens não são flores para escolher e colher com parcimônia.”
Voltaire

quinta-feira, fevereiro 18

Perguntas, pra quê?


A grandiosidade pode nascer de coisas simples. Estava a pensar sobre uma conclusão de perguntas simples que me foram feitas sobre qual seria o melhor e o pior dia da minha vida. É lógico que um filme da vida dotou de cores meu imaginário e como não podia deixar de ser eu me restei na dúvida, não presenciei um impasse entretanto, e bem de longe percebi que nesta ocasião não teria uma resposta. Eu sabia que não encontraria e mesmo se encontrasse saberia que poderia ser uma resposta efêmera. Ao mesmo tempo, me detive na insatisfação de que uma vida não pode viver na constante inópia do melhor dia. Assim, questionei o que tinha posto como resposta e nela me contentei. Na solução então encontrei o hoje, que não acaba no seu momento, na sua hora e que é onde resta a tangibilidade da vida. Resta melhor e mais adequada não há. De um todo, haverá dias maravilhosos, talvez de sensibilidade repetida, talvez sem igual, mas todos dotados de uma singularidade que não deixa espaço para comparações e daí, têm-se então, a própria dita verdade.
O pior então, não poderia ser escolhido a dedo, e também impossível de ser comparável. O pior dia não é tangível a si próprio porque nele está a inação, a inevida, a não-vida. O próprio sentido do dia impede que seja rejeitado seu valor. Na vida não há o pior quando o pior é não tê-la. E só há nela o melhor, porque a vida é uma dádiva materializada no dia, no hoje, no agora e que se basta numa materialização memorada. O pior dia é aquele que nos é tirado a própria arte de respirar, de bater o coração e de pensar. É onde resta o silêncio, quando a solidão se plenifica e o que não nos é sentido. O pior dia se fecha em si mesmo, para uma eterna noite, quando o Sol morre, outras estrelas ofuscam e retomam o seu brilho. Não existe Lua, não existe Terra, entraremos indefinida e rapidamente para toda uma imensidão. Mas esse pior dia só poderia assim sê-lo na vida porque em si mesmo não é pior. Apenas eternamente será e estará.

domingo, fevereiro 7

Um pé de cada lado de uma só vez


O que ela sente? O que ela faz? O que ela sabe? Sabe nada. Faz pouco. Sente tudo. Por isso mesmo parece estar confuso tudo o que um dia certamente afirmaria estar certo, ser verdadeiro. Cai novamente no vale do vale nada, vale tudo. E o que é que é mais importante não sabe. Se descreve, se conta, se chora, se ri, se prende ou se voa. Para onde vai se fica a lamentar o para onde não foi. Se fica, vai e se vai, fica. Não sabe, não sabe, nem tenta se sabe nem sabe se tenta. Óh! Inópia permanente felicidade presente. Se fora ontem que fez ou se é amanhã que destrói. Deixa levar num vai e vem de palavras esquecendo o que se foi, vindo o que se vai. Não é ela, ou a é! E se fica vai levando e vai ficando e vai vindo e vem indo. E ela sabe que sente o que fez e sente que sabe o que não fez. Se chora? Se ri? Ela vai levando.


Fig: Composição minha com Norman Rockwell, labirinto recoloridos em tom claro de vermelho 1

segunda-feira, janeiro 11

O Guardião de todo seu tempo

Arrumava as coisas no quarto. Analisava suas pulseiras, brincos e enfeites de cabelo quando de repente encontra o seu antigo e amado relógio. Aquele é um relógio especial. Foi-lhe dado como congratulações de sua primeira formatura, aquela em que se celebra a arte de ler. Foi seu primeiro relógio sério, porque de brinquedo, de bala e até desenhados de caneta já haviam muitos. Sério porque era nele que ela realmente acompanhava o passar das horas e por muito tempo foi por trás daquelas lentes que pautavam seus compromissos de criança. É um relógio lindo, judiado pelo tempo, lindo! O tempo desgastando o tempo... Que perfeição! Ela se pôs a lembrar de como esse relógio trouxe bons momentos. Brincadeiras, amigos... Mas ela viaja. Ela agora está encostada na coluna que sustenta a laje do quintal de suas escolhinha. Com seis anos, usa o relógio que lhe foi dado no ano anterior. É dia de comemoração. Aniversário da sua primeira segunda casa, a escolhinha que tanto ama, de muitas lembranças. O mágico pede o guardião do tempo pausado em seu pulso, ela esquiva. Na verdade ela teme pelo que pode acontecer com seu relógio. Ficar sem ele seria uma tragédia e ela não confia nesse homem que faz surgir e desaparecer as coisas. “Seu pó mágico pode acabar, ele pode aproveitar de se poder e roubar o meu relógio”. Enfim, seus pensamentos não há impedem de destravá-lo de seus braços e entregar seu tanto querido presente, as pessoas olham, ela desconfia. Pronto! Está feito! O relógio nas mãos daquele ilusionista não poderia ganhar bons destinos. Eis que o relógio é colocado no saco mágico e depois de uma sacudida ela se espanta. O seu relógio desapareceu, o que temos no lugar é uma ridícula ceroula moderna, vermelha e vulgar. Ela chora. Desespera-se pelo seu relógio, ela lamenta, lamenta muito. O mágico se apressa para desfazer a mágica, afinal, ao invés de aplausos, sua platéia anseia pela volta do relógio para minguar as lágrimas da menina que tanto chora. Ela não quer o relógio, ela quer as lembranças carregadas naquele objeto de volta. Ainda com ele em mãos ela continua a chorar o medo da falta. E por isso, ela decide voltar a usá-lo agora já adulta. Naquele relógio estão lembranças, choros e paixões. Ela gosta disso. Ela gosta desse encantador relógio. Antigo, amado, especial.

domingo, janeiro 3

_ Rondon: Brava Gente Brasileira

Fui Marechal. Sou Marechal. Sim, porque quem vos fala nunca perderá seu espírito de Marechal, sólido nessas cordiais insígnias presentes em minha veste. Essa imagem do cruzeiro resplandecendo ainda em meu peito trouxe-me muita honra. Servi à pátria bem servindo a humanidade, lutei por ideais que não eram somente meus. Ainda dos céus tenho minha pátria como mãe, sou também filho deste solo onde pisas. Deitava-me nesse berço esplêndido admirando a nossa natureza singular a se mostrar, na terra, na água, no ar. “Pelas estradas sem fim, ou pelo campo [hoje] caminha [ainda e mais do que nunca] a Glória” de uma nação mais integrada. As lembranças que trago nessa nova vida, aqui no céu, as quais nunca me esquecerei, são as que vivi com o meu povo, o nosso povo, a quem eu era Pagmejera e para quem consegui “o melhor fruto dos esforços de minha longa vida”, o Serviço de Proteção aos Índios, nossos queridos irmãos.

Parecia ser inato esse meu patriotismo, ainda que não percebesse o quanto esse sentimento pudesse ser capaz de se materializar em integração das estruturas e dos povos. Presenciei nosso país mudar e mudamos junto, foi a época em que a liberdade abriu as asas sobre nós e ouvimos a sua voz. Com os brasileiros avante, numa terra de livres irmãos, também compartilhei do grito soberbo de fé. Comemoramos a República. O amor vinha trazendo a ordem e a ordem, o progresso. Jovem, listando missões e missões, ganhava princípio a “missão salvadora”. Não foi sozinho que almejei, baseávamos, eu e meus compatriotas, em grandes ideais evolutivos à humanidade. Ideais esses que lutavam pelas liberdades fundamentais de todos, pela igualdade e pelo direito à vida.

Tínhamos braço forte porque somente o empenho e a vontade verossímeis nos fariam vencer todas as barreiras que nos eram impostas, a cada dia em nossas aventuras, adentrando em territórios não muito explorados pelo dito “homem branco”. Ao mesmo tempo, tínhamos a mão amiga, porque somente assim conseguiríamos alcançar nossos objetivos sem ferir nossos próprios princípios e ideais. Estendia a mão e esperava um aperto amigo, eu levava o progresso e levava a paz.

Perdoem-me aqueles que jorram sangue para salvar a pátria, mas não deixei de amar para salvar a minha da indiferença que assola os corações das nações. Levei e trouxe paz, e com ela, o diálogo e o entendimento impossibilitados por uma carência de comunicação. Nunca pensei impor nossa cultura, porque ela é algo muito natural e tradicional de cada indivíduo, em particular e de cada coletividade, em geral. Para respeitar e amar o outro se deve considerar suas especificidades. Acima de tudo, nada é melhor ou pior. Foi preciso, entretanto, integrar os índios à forma de instrução do “homem branco” para estabelecer laços de comunicação. Esse foi o primeiro passo da grande caminhada de respeitar o outro de forma a preservar seu modo de vida sem sobrepor o nosso próprio.

Plantei e colhi amor por onde passei, por onde desbravei. Já que adoro todo esse país, nunca temi a própria morte. Um filho legítimo não foge à luta, morreria se preciso fosse, mas matar, nunca. E por isso, posso dizer que vencemos. Vencemos a batalha imposta ao fim dos próprios filhos primogênitos de nossa nação. Consegui criar normas e regras comuns à serviço de proteção aos nossos irmãos. E essa vitória trago junto comigo para sempre, já que foi a minha grande luta em vida. Luta em que era eu e nossos concidadãos, mensageiros da paz. “Paz [sempre] queremos, é de amor nossa força e poder.” O único arsenal que guardo é o de Medalhas, por bons serviços prestados às milícias de 10, 20, 30 anos...

Pude, então, andar por nosso país, descobrir seu verde, construir nosso lar. Sempre acreditei que o futuro espelharia nossa grandeza, nos fazemos grandes também por sermos ricos de raça e por sermos ricos de cor. Ora, “somos todos iguais”! Com a “visão permanente na pátria” percebia a ordem e o progresso sendo aclamadas pelos campos do Brasil sem serem, naquele momento, ouvidas já que falhava nossa integração e desenvolvimento. E, depois da luta e conquista por uma infra-estrutura mais arraigada, via contente a mãe gentil, raiando a liberdade no horizonte do Brasil. Ficaria para nosso povo, a pátria livre ou morreria pelo Brasil. Longe sempre esteve o temor servil, garanto que meu lema é mesmo bem servir.

Ainda está fresco em minha memória o momento em que acompanhei Roosevelt do rio Paraguai ao Amazonas, de Sul a Norte desse país e, em sua homenagem, batizei o seu nome num rio nosso. Terras nunca antes percorridas mereciam uma lembrança dessas nossas andanças. Deixei claro a ele “como é sublime saber amar e com a alma adorar a terra onde se nasce” e acredito que, na verdade, com ele compartilhei esse sentimento. Tanto andei nesses nossos bosques de mais vida e mais valores que, acabou meu nome sendo chapado em ouro ao lado de grandes exploradores e descobridores do mundo. Dentre exploradores de terras frígidas, fui o representante de nossas orgulhosas terras tropicais.

Vislumbrei-me ao tornar terras brasileiras, terras com o meu nome. De certo que prá lá de "Rondônia" me aventurei e, no fim, ajudei aqueles que desbravavam as barreiras da ciência da natureza com as infinitas novidades presentes em nossa biodiversidade. Porém, cravar meu nome nessas terras, foi mais uma das honras que carrego em meu peito. Um presente dado no seio da minha mão gentil.

Por um momento parecia que podia perder a visão, mas de toda a beleza de nossa terra e de nosso povo, foram-me possíveis de se admirar com o que ainda restava. Eis que friso uma determinada cegueira, a pior delas, que vêem os índios como uma coletividade diferente do nosso povo, e, dessa idéia nunca padeci. Somos uma terra de irmãos e somente por nós, concidadãos, o Brasil poderoso e feliz há de ser.

Foram muitas as honrarias, e elas não teriam chegado se não fosse a maravilha de conhecer nosso próprio povo, que deve ser preservado. Somos uma nação forte, rica e bela. Com a beleza mais imortal de todas, a da natureza. E espero que meus concidadãos, os filhos deste solo, que pisam agora nesse país gigante pela própria natureza continuem a lutar com braços fortes e ter como nosso principal símbolo o amor eterno. Fui mais que herói por fazer o que talvez ninguém tivesse coragem, e fui brasileiro. Essa fibra de herói é algo inerente a nossa nacionalidade, a esse povo varonil dessa pátria amada, Brasil. Amor filial. Amor nacional.

“Eia, pois brasileiros, avante!” Continuem a “viver para outrem”. Levem essa lição aos ritos de seu povo. Não sou somente branco ou pardo, sou um de vocês, sou brasileiro, no fim compartilhamos valores comuns e, assim como vocês, idealizei. Realizei.